Acervo

"Que os sonhos faça-nos realizar o que a realidade não nos permite sonhar."

José Honório

Eu e Juliana

No tempo em que fui menino
não tinha televisão
por isso meu passatempo
era bodoque e pião
tomar banho lá no riacho
e pegar "aduvinhão".

No entanto eu fui crescendo
e já estando um rapaz
ajudava o velho Pedro
a cuidar dos animais
e também da plantação
lá do sítio de meus pais.

E nesse tempo eu ainda
sem ter mulher conhecido
de vez em quando eu sentia
algo em mim endurecido
quando chegava na mente
um pensamento atrevido.

Porém só fui descobrir
o prazer que ele traz
ao conhecer Juliana
(era bonita demais)
era mesma uma poltranca
que não esqueço jamais.

É dela que passo agora
a descrever o roteiro
e também do nosso caso
que é todo verdadeiro
muitas vezes repetido
no nordeste brasileiro.

No jardim da mocidade
o mundo tem mais olor
os dias são mais festivos
a noite tem mais primor
a mente é cheia de sonhos
e o peito cheio de amor.

Juliana foi a tara
que eu tive na adolescência
com ela foi que vivi
a primeira experiência
numa tarde de janeiro
na solidão da querência.

Momentos inesquecíveis
com Juliana eu passei
passeando pelos campos
de fazenda onde morei
e desses nossos passeios
eu jamais esquecerei.

Mesmo ficando caduco
agindo como criança
na minha senilidade
(que se não morrer, me alcança)
eu sei que Juliana vai
estar em minha lembrança.

Ela sempre me levava
pros passeios matinais
pelos rios, pelos campos,
por dentro dos matagais
e desses dias tão bons
sinto saudade demais.

E em nossas cavalgadas
vendo aguçado o sentido
fazia versos pra ela
cantando no seu ouvido
tendo o sol por testemunha
de nosso amor proibido.

Uma vez aconselhado
pelo "nego" Nicanor
levei Juliana pro mato
por entre ânsia e pavor
comecei a lhe alisar
mesmo com certo temor.

E ela naquele instante
pareceu compreender
aquilo que eu queria
pois ficou a se mexer
ficando assim, mais arisca
aumentando o meu querer.

Pus as mãos em suas ancas
e engatei na traseira
ela ficava impassível
satisfeita, prazenteira
saciando meus instintos
na bestial brincadeira.

Depois disso muitas vezes
levei pra junto do rio
aonde tinha um barranco
e então nesse baixio
eu pegava a Juliana
quando ela estava no cio.

Foi tão grande a atração
que por ela eu sentia
que me tornei um escravo
daquela égua vadia
cada vez mais penetrando
na sua ardente enchovia.

Nem o canto das sereias
que dizem ser sedutor
me faria desprezar
o prazer e o calor
que Juliana me dava
quando lhe fazia amor.

Foram dezenas de vezes
de conjugação carnal
pois tarei em Juliana
mas eu achava normal
Juliana era uma... égua
que não tinha outra igual.

Não queria nem saber
de almoçar e de jantar
só pensava em Juliana
ia pra todo lugar
que vida boa era aquela
como gosto de lembrar.

E nas horas vespertinas
quando o sol desvanescia
pegava sela e arreios
com Juliana eu saía
só voltava quando a noite
os campos verdes cobria.

O meu pai desconfiou
desse meu procedimento
e num dia de domingo
seguir-me teve o intento
e o fez bem sorrateiro
a tudo ficando atento.

E em flagrante delito
por meu pai fui apanhado
e levei um grande pito
que fiquei acabrunhado
mas o que houve depois
foi o golpe mais pesado.

Meu pai não se conformando
com a minha perversão
vendeu então minha égua
foi grande a decepção
ficou por mais de um mês
tristonho meu coração.

Não tendo mais Juliana
eu não quis substitutas
e passei a paquerar
as mais trigueiras matutas
me saciando nas zonas
com devassas prostitutas.

Mas ainda não achei
nenhuma mulher mundana
que seja bastante escrota
experiente e sacana
pra meu causar os prazeres
que tive com Juliana.

Este caso aqui contado
é um fato bem real
que inda hoje acontece
dentro do meio rural
e passa despercebido
do povo da capital.

Agradeço a todos que
me comprar um exemplar
pois comprando este folheto
ao autor vai ajudar
prestigiando o trabalho
do artista popular.